Meio ambiente
Cidades da região lideram desmatamento do bioma Pampa
Devastação caiu pela metade em relação a 2022, segundo levantamento do MapBiomas
Foto: Pedro Revillion - Arquivo - Palácio Piratini - Com menos de 20 milhões de hectares, o Pampa é um dos menores biomas brasileiros
A área desmatada na vegetação do bioma Pampa registrou queda de 50,4%, com 1.547 hectares devastados, ante 3.121 hectares em 2022. Os dados são do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pelo MapBiomas. Os números revelam ainda que mais da metade da área desmatada ocorreu em apenas cinco municípios: Encruzilhada do Sul (334 hectares), Piratini (208 hectares), Herval (130 hectares), Canguçu (77 hectares) e Bagé (49 hectares).
Com menos de 20 milhões de hectares, o Pampa é um dos menores biomas brasileiros. Presente apenas no Rio Grande do Sul, equivale a 2,3% do território nacional e também está presente no Uruguai e na Argentina. O levantamento identificou que mais 77% da área desmatada é de formações florestais; e um pouco menos de um terço (21,9%), de formação campestre.
A entidade pondera, no entanto, que os atuais sistemas de detecção do desmatamento no Pampa estão calibrados para a supressão das florestas e, por conta disso, ainda não monitoram a supressão da vegetação campestre de modo eficiente, que é a vegetação nativa típica e predominante no Pampa.

O ecólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Marcelo Dutra da Silva, explica que o desmatamento não se refere somente às florestas, mas também à vegetação nativa característica do Pampa. “O que nós perdemos aqui é justamente área de campo, é o que está mais ameaçado”, diz.
Embora a redução do desmatamento no Pampa deva ser comemorada, o professor pondera que ainda há um nível muito alto de perdas no bioma. “Nós ainda estamos consumindo a biodiversidade do Pampa com muita velocidade, continuamos avançando sobre áreas nativas”, diz. “Mesmo que a gente esteja detectando uma redução, é uma perda que ainda pode ser considerada alta, e deveríamos nos alertar para isso para tentar garantir uma forma de uso mais adequada, concentrada na tecnologia e no aproveitamento natural desse bioma.”
O ecólogo vê com preocupação a concentração desse desmatamento em cinco municípios onde ainda há uma presença importante do bioma Pampa. “São municípios que ainda abrigam grandes remanescentes de campo, grandes manchas de campo nativo de diferentes fisionomias. Ou seja, se o avanço está grande nos campos presentes nesses municípios, estamos perdendo boa parte daquela reserva de campo nativa que ainda existe”, diz.
Cenário nacional
Mais da metade de toda a área desmatada no Brasil em 2023 está localizada no Cerrado. Pela primeira vez desde o início da série histórica, em 2019, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em termos de área desmatada. Quase todo o desmatamento do país (97%), nos últimos cinco anos, teve a expansão agropecuária como vetor, destacou o relatório.
O levantamento mostrou que, nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu 8.558.237 hectares de vegetação nativa, o equivalente a duas vezes o estado do Rio de Janeiro. No entanto, em 2023, houve uma queda de 11,6% na área desmatada: ao todo, 1.829.597 hectares de vegetação nativa foram suprimidos em 2023. Em 2022, esse total foi de 2.069.695 hectares. Essa redução se deu apesar de um aumento de 8,7% no número de alertas, na mesma comparação.
O MapBiomas ressalta que os dados apontam a primeira queda do desmatamento no Brasil desde 2019, quando se iniciou a publicação do RAD. Por outro lado, a avaliação é de que a cara do desmatamento está mudando, se concentrando nos biomas onde predominam formações savânicas e campestres e diminuindo nas formações florestais.
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